quarta-feira, 2 de abril de 2014
domingo, 23 de fevereiro de 2014
( )
Eu sinto
como se houvessem atmosferas brancas envolvendo imagens delicadas. E eu
acredito em pessoas com a mesma força com que acredito em colisões. Está tudo
seguro, por ora. Eles deixam que a pele caia, camada por camada. Revelam
segredos, vaidades, medos e sonhos. Esse é o rastro da colisão: o que a gente deixa
escapar. E ainda assim meu corpo sempre se recolhe... Num rastro de luz que me
mostra um caminho no sentido corpo, alma. Não é fácil olhar para si com os
olhos de dentro, mas não há uma segunda saída quando a gente percebe o caminho
entre mantras, flores e estrelas. Só resta decorar a estrada de tijolos com
flores perfumadas em suas margens. Estar longe me faz vulnerável a um novo tipo
de sensibilidade. A atmosfera branca também envolve a minha solidão. E lua, que
decora a janela do meu quarto, deixa um aviso silencioso e contido: Go on baby,
go on. Mais uma vez, não me resta outra escolha. “É como estar condenado à
felicidade”, um tipo quieto, solitário e pacífico desta. É como ter o destino
desenhado entre as constelações, as Três Marias e outras mais, e o seu fim... O
seu belo, trágico e invariável fim, é morrer de alegria. Até nas ruas mais
desertas, nos becos, nos homens-poder-sem-fim, na própria tristeza, na
sensibilidade: Ver brotar um único e belo rastro de cor. As delicadezas são sempre envolvidas e
lembradas. É a nossa pureza e nossa vaidade.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Sobre part(ir)
De uma forma
muito curiosa, eu sempre acreditei na mudança. Mudar os móveis de lugar, trocar
os horários, atravessar a cidade por um novo caminho. Ir a um lugar
desconhecido. Sobretudo, i-r. Numa viagem entre estradas perigosas, caminhos
improváveis e incertos, jornadas longas de céus tempestuosos. E quando, num
momento oportuno, resolvi ir embora do ninho quente e confortável, descobri
novidades profundamente desagradáveis ao meu respeito. A parte boa é que
aprendi, de certa forma, a lidar com elas.
Existe um
cara que me ensinou que na vida os desafios são indispensáveis, e que se você
olhar bem fundo descobrirá que sempre há uma saída aguardando o seu alívio.
Esse mesmo cara foi quem me ensinou a abrir as asas, olhar pra frente, admirar
o céu, e respirar fundo. Quando os dias apertam, a solidão machuca, eu penso
nele... E em como ele espera que eu torne essa nova jornada em algo
extraordinário. Na cidade verde eu conto as delicadezas, as desventuras, os
triunfos. Eu me encanto nos espaços em branco que não conheci, e com as
pessoas-sem-nome que esbarrei na noite passada... E algumas revelações são
concedidas... Como a verdade sobre a liberdade que todos falam e cobiçam. Esse
sonho é como uma solidão disfarçada, um choro contente, uma vaidade volátil.
Sonhar também tem um preço.
Não há um
caminho mais fácil; o segredo é não olhar para trás. Aprendi a fechar as malas,
fechando ciclos. Deixando pra trás o que não me pertence, guardando no coração aqueles
que não passam, ficam. Enfeitei as estradas com um brilho florido, e todo o meu
mundo, universo, ou seja lá o que for essa atmosfera que me cerca, possui um
gostinho agridoce, com sonhos sobre ir em frente, sobre ir de encontro ao
mundo, entrando em carros/ônibus/aviões com uma lágrima fugida, um alívio
pesado. Haverá sempre um amor deixado nas rodoviárias, haverá sempre um pai
sonhador e uma mãe preocupada acenando pra você do lado de fora. Você pode
olhar para eles, e assisti-los caminhando de volta para suas vidas, esperando
que seus olhos sejam capazes de registrar a última sombra, o último pedaço de
pele... Aí então você fecha os olhos. Deixa a lágrima fugir, sorri um sorriso
leve, e compreende, em algum lugar dentro de si, que o mundo a espera
ansiosamente. E cada lugar, cada paisagem, cada mistério revelará verdades ao
seu respeito. Eu percebi... Não importa quantos quilômetros eu tenha
percorrido, as viagens possuem sempre uma mesma distância: Da mente para o
coração.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
As ruas são sempre as mesmas. O moço gentil continua sentado
em frente à farmácia, o senhor da padaria continua sem sorrir e as crianças
ainda correm por aí em bicicletas. Os dias são quase sempre os mesmos. Eu aceitei
a rotina, mas também aceitei quebra-la quando necessário. Existe um lado
complicado nas rupturas, o recomeço. Ciclos se iniciam e finalizam suas
missões, mas existe um espaço de tempo, entre um ciclo e outro... É nesse
espaço onde me perco. E estar perdida virou uma condição intrínseca da minha
existência.
sábado, 7 de setembro de 2013
Carta ao mestre
Acho que você sabe, eu sempre guardei uma
curiosidade infinita sobre os mistérios do mar. Eu sou dele, mestre. Eu me vejo
no horizonte e na parte invisível sob a imensidão azul, e nas ondas que se
quebram... Quebram-se, e voltam. Voltam e voltam diferentes do que foram,
cumprem seu destino e entregam suas conchas, deixam na areia da praia o que não
lhes cabe mais. Eu me lembro de vê-lo carregando sua bicicleta enquanto eu
cumpria um ritual com amigos, conchas e água salgada. O que eu sabia sobre você
apesar de ser pouco era o suficiente para sustentar meu interesse... “É ele? O
menino mágico?” Então a gente senta numa roda, e o mar quieto e sereno, se
despedindo do sol, recebendo a lua, presencia o que a gente chamou de
reencontro. Foi uma noite linda, menino coala, o nosso reencontro. Envolvia uma
quantidade tão bonita e numerosa de pessoas de espírito livre e bondoso,
contidos talvez, mas prestes a soltar a sabedoria que havia ali, guardada,
pronta pra ser instigada.
Não sou capaz de recordar uma passagem da minha
vida tão rica em conhecimento como o desenrolar dos nossos encontros. Era uma
coisa bonita, a sua essência. Minha estranheza andava de mãos dadas com
uma profunda admiração. Havia atemporalidade nos seus passos, e enquanto você
andava o destino ia se movendo como faíscas coloridas que se movem junto com o
vento, numa dança que desenha caminhos capazes de nos levar a lugares e pessoas
inesperadas. Nossos encontros eram assim, uma faísca brilhando na noite que
entrelaçava caminhos, e aí a gente se achava. “Olha aonde vai Peu!” Jeito
bonito de se encontrar... De ser encontrado.
Hoje eu sei que do que sou, há muito sobre o
que fomos. Sobre o nosso reencontro! Minhas palavras são fortemente dirigidas a
você, por pura gratidão e amor. Amor porque a partir de você mais laços foram
feitos, e a nossa tribo, me representa. E de tão distintos, eu sei, a gente se
pertence sem a menor pretensão de ser dono do outro. É uma amizade pura, laço
de alma, de espírito. E o nosso acontecimento em conjunto não é obra única do
acaso, é a sintonia do destino. Nossos passos trilhavam os mesmos caminhos e o
coração beirava o mesmo precipício. Vocês me fizeram especial.
Eu olho em volta, mestre, e vejo que o tempo
presente é uma prova: Preciso aplicar toda a teoria que aprendi com você. Houve
uma troca intensa de conhecimentos e aprendizagens, um momento riquíssimo em
amor que sustentaria toda a saudade. Eu me lembro, de quando você me disse em
uma das noites mais assustadoras da minha vida, “Medo é ilusão, pequena, vai
passar”. Além de cuspir cartas e fazer coisas desaparecerem, você tem o dom de
me acalmar. Por isso no instante que tenho em mãos, honro todas as
aprendizagens fazendo desaparecer o medo, a ilusão. A angústia que não é minha.
Foi com você, mestre, onde eu comecei a respeitar as minhas asas. Aprender que
laços não se quebram com a distância, e que o universo habita também dentro de nós.
São nas lembranças de dias e noites em frente ao nosso cúmplice, o mar, dias e
noites em boa companhia, uma roda de amigos. Saudade não é mais dor, sabia? A
minha saudade é pura gratidão. E eu sinto, num lugar aqui dentro, que ainda
vamos nos cruzar muitas e muitas vezes. As estradas também são nossas.
Estou vivendo na cidade onde o sol nasce
primeiro em toda América, sabia disso? E vou lhe contar que ando conhecendo
tanta gente de sorriso bonito! Tanta gente cheia de simpatia que conquistam no
dia a dia o meu encanto. Preciso lhe trazer aqui! A nossa tribo inteira. Apreciar
a imagem de Iemanjá em frente ao mar, diante de toda a cidade, e pedir que a
rainha dos mares nos dê ainda mais coragem e sabedoria. Preciso amanhecer com
vocês outra vez, e rechear meu coração com aquela luz e paz. Apreciar o
mistério do planeta... Vamos nos vestir de alegria, como sempre fizemos. Vamos
atravessar a ressaca, o mal tempo. Mesmo de longe, a gente se cuida. E vai
cuidando, porque é pra ser assim. Gratidão menino coala, eu também aprendi com
você, toda a minha gratidão pelo momento em que o destino resolveu nos colocar
outra vez, um na vida do outro.
Quando vejo o mar me lembro de tudo o que
senti, num dos anos mais bonitos. E o mar beija meus pés daqui, e beija o de vocês,
daí. Vai mandando minhas energias, meu afago... E eu vou aguardando com muita vontade, o momento em que nos veremos outra vez. Cuida-te! Obrigada pelo mundo que você me
apresentou, obrigada pelo livro que me entregou, pelo universo que construímos
(com tintas, Viajande!). Por ti, todo o meu carinho, admiração, respeito e
a-m-o-r! Por nós, pela tribo, pelos viajantes... Toda a fé, os pés descalços na
areia da praia, a coragem, a astúcia e a humildade. Fomos grandes enquanto estivemos
juntos. Nos tornamos gigantes pelo que construímos.
Com amor, e muita saudade,
A sua aprendiz.
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